Escolas também estão na mira dos criminosos.
Nas últimas semanas a violência vem assustando os moradores de Novo Hamburgo. Do dia 25 de setembro até o ultimo dia 02 de outubro, quatro crimes chocaram a cidade.
No dia 25 um Técnico em Química de 34 anos, perdeu a vida quando retornava do trabalho para casa. Ele foi vítima de latrocínio. No dia 27, mãe e filho foram baleados dentro do carro após uma discussão no trânsito. Dois dias depois, 29 de setembro, um empresário foi morto ao chegar ao trabalho e no dia 02 de outubro pai e filho ficaram em poder de sequestradores por seis horas. A família do bairro primavera viveu momentos de horror, o menor foi levado pelos bandidos quando ia para a escola.
Sala de brinquedos invadida pelos ladrões
na EMEI Pequeno Polegar
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Além desses casos, o número de furtos, roubos e arrombamentos também não para de crescer, e nem as escolas municipais tem escapado da mira dos ladrões.
Na semana passada a Escola Municipal de Ensino Infantil Pequeno Polegar, bairro Guarani, foi assaltada durante a noite. Os bandidos entraram e levaram brinquedos, utensílios de cozinha e até a mochila de uma das crianças.
A EMEI que fica ao lado de uma área com muitas árvores e praticamente nenhuma iluminação, é mais uma escola que sofre com a falta de um plano de segurança em Novo Hamburgo. Na Escola Jorge Ewaldo Koch, a situação não é diferente. Localizada no bairro Rondônia, somente no mês de janeiro a Diretora precisou ir 17 vezes até a escola por conta de disparos do alarme. “Nos corredores e outras áreas externas da escola decidimos não repor as lampadas, pois elas sempre são roubadas”, conta a Professora Claudine que assumiu a direção da escola neste ano.
Acesso à escola foi facilitado pelas más condições da porta. |
A escola sofreu ao menos um ataque por mês de fevereiro até junho deste ano. Além das lampadas, os criminosos também roubavam folhas de ofício. A desconfiança é de que jovens da própria comunidade estejam envolvidos nos crimes, tanto na escola do bairro Rondônia quanto na EMEI do bairro Guarani, mas a questão é:
Por que esses jovens estariam atacando escolas, que são um patrimônio publico e que logo pertencem a eles?
De acordo com a professora Doutora em Ciências Sociais, Sueli Cabral a explicação não é simples e precisa ser analisada de vários pontos. “O que temos visto é um afrouxamento das regras sociais. A partir dos anos de 1950 com o aumento do consumismo a sociedade passa a se comportar de uma forma diferente, onde ter é mais importante que ser”, diz a professora ao se referir ao estado de anomia social.
O conceito de Anomia Social foi estabelecido pelo teórico Émile Durkheim para mostrar que algo na sociedade não funciona de forma harmônica. É um estado de falta de objetivos e perda de identidade, provocado pelas intensas transformações que ocorrem no mundo social moderno.
Sueli Cabral: "Investir em igualdade é garantia de paz social" |
A desigualdade social é um dos fatores que tornam o comportamento da sociedade, como um todo, mais violenta. Mesmo com indicativos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontando que a a desigualdade no Brasil diminuiu na última década, a professora alerta para o que realmente é analisado pelo Instituto. “Essas pesquisas avaliam apenas a questão monetária, mas no país existem outras desigualdades, como a desigualdade cultural”.
De acordo com Sueli a questão que passa pelos processos educacionais não tem a ver exclusivamente com o letramento ou níveis de graduação, mas também com o acesso a cultura.
O que pode ser feito para reverter esse quadro?
O que pode ser feito para reverter esse quadro?
Charles Kieling: "As polícias perseguem e reagem contra os efeitos e não contra as causas". |
Ainda de acordo com o especialista, não há como fugir de projetos que envolvam a comunidade escolar “é preciso envolver moradores, comerciantes e sociedade civil organizada e liderança comunitária para desenvolver a conscientização de que o patrimônio escolar é da comunidade e os danos contra o tal afetam os próprios”.
“O processo de conscientização não passa somente pela comunidade” comenta o Presidente do Sindicato dos Professores, Gabriel Ferreira ao se referir ao ambiente em que os jovens da periferia são expostos.
“Muitos adolescentes e crianças sofrem com a violência que é provocada pelas instituições que deveriam defendê-los. Parte da violência sofrida nas comunidades é promovida pelo próprios Estado”.
Gabriel Ferreira "O Jovem, muitas vezes, é vítima da violência promovida pelo próprio Estado" |
Kieling concorda sobre os procedimentos adotados pela polícia em todo o país “Os órgãos de Segurança Pública no Brasil, e isso é evidenciado na história do Brasil, não foram constituídos para fazer a segurança pública”.
De acordo com o professor os cursos formadores dos agentes carecem de conhecimentos técnicos destinados a analisar, compreender, agir e reagir no âmbito da violência e criminalidade. E o mais grave, são pautados por ações de guerra e de guerrilha em ambiente urbano.
“As polícias também não “Estudam” os cenários onde devem atuar; apenas identificam o fato de violência ou criminalidade e passam a perseguir o mesmo, sem terem conhecimentos técnicos para compreender sobre as causas que originaram tais fatos. Em geral, as polícias perseguem e reagem contra os efeitos e não as causas da violência”. concluiu.
O SindProfNH está com reunião agendada com o Secretário de Segurança de Novo Hamburgo na próxima quarta-feira 28 de outubro. “Nas vistas que estamos fazendo nas escolas temos recebido outras denúncias, inclusive, de ameaças contra professores. Estamos apurando caso a caso para tomar providências”, finalizou Gabriel Ferreira.
Um dos assuntos que serão pauta entre o secretário e o sindicato é o Registro Online de Violência na Escola (Rove) lançado nesta semana que exigiu um investimento de R$ 750.000,00 dos cofres do município.
Um dos assuntos que serão pauta entre o secretário e o sindicato é o Registro Online de Violência na Escola (Rove) lançado nesta semana que exigiu um investimento de R$ 750.000,00 dos cofres do município.
Charles Kieling, Professor do curso de Direito da Feevale. Possui graduação em Licenciatura Plena em História pela Universidade de Caxias do Sul e mestrado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Tem experiência na área de História e Ciências Sociais, com ênfase em História, Organizações e Sociedade, atuando principalmente nos seguintes temas: segurança privada, organizações públicas, segurança pública, recursos humanos, cidadania, inteligência, gestão, estratégia e riscos. |
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