sexta-feira, 28 de junho de 2013

O QUE ACONTECE DIA 1º DE JULHO DE 2013?

O QUE ACONTECE DIA 1º DE JULHO DE 2013?
 
Na assembléia dos professores realizada neste final de tarde, dia 27 de junho, a categoria decidiu aderir ao movimento greve geral, paralisando as atividades no dia 1º de julho. Seguiremos a mobilização do Ato de Mobilização Nacional, enfatizando as questões relacionadas à Educação. Em especial, defenderemos uma educação de qualidade com valorização dos Trabalhadores em Educação no município de Novo Hamburgo.
Motivos não nos faltam para ocupar e protestar nas ruas. Os professores que não foram receberam seus triênio, nem a mudança de nível, conforme previu o novo Plano de Carreira de out./2011, é um dos exemplos que indigna e deve mover a participação.
O magistério de Novo Hamburgo exige seus direitos (1/3 de hora atividade, reconhecimento do mestrado e doutorado, licença sabática, autonomia pedagógica, liberdade de apresentar seu diploma assim que concluir sua formação)...
Onde ficou o repasse da inflação no auxílio alimentação?
As escolas enfrentam problemas estruturais (nossos colegas que convivem com a insegurança?)
Os problemas de mobilidade urbana e difícil acesso que os professores de Lomba Grande e ouros lugares enfrentam?
QUEM VAI OUVIR O CLAMOR DA EDUCAÇÃO DE NOVO HAMBURGO QUE VEM APONTANDO DIVERSOS PROBLEMAS?
 Acompanhe as chamadas nas redes sociais e venha à Praça do Imigrante no dia 01 de julho, para se fazer presente às manifestações de rua.
A EDUCAÇÃO NÃO PODE ESPERAR!

 

quinta-feira, 27 de junho de 2013

MANIFESTAÇÕES POPULARES NO BRASIL


manifestacao contra copa
Desde o último dia 12, o Brasil tem sido palco de inúmeros protestos, organizados majoritariamente pela juventude, os quais tiveram início depois do anúncio de reajuste nos preços do transporte público em várias cidades do país.

A atual dimensão dos atos dá conta de que o transporte público é apenas um dos eixos das mobilizações. O povo nas ruas, embora sem lideranças tradicionais – seja de pessoas, seja de entidades organizadas – tem manifestado contrariedade com os gastos públicos para a construção de estádios da Copa do Mundo de Futebol de 2014, bem como com o histórico e insuficiente investimento público em educação e saúde, com o fisiologismo e a corrupção política nas três esferas da federação (União, Estados e Municípios), com a falta de democracia participativa, que possibilite a consulta pública periódica à sociedade sobre temas relevantes, a exemplo da destinação de 100% das riquezas do petróleo para a educação pública.

A CNTE solidariza-se com a pauta justa e urgente apresentada pela maioria dos integrantes desses movimentos de protesto, mas é contra atos de vandalismo, violência, saques e depredações ao patrimônio público e histórico, seguindo a própria orientação da maior parte dos manifestantes que tenta impedir essas ações durante as mobilizações.

Reconhecemos muitas das insatisfações populares – até porque elas constituem pautas permanentes da classe trabalhadora, em especial dos/as trabalhadores/as em educação – porém acreditamos que o Estado Democrático, no atual contexto civilizatório, deve ser preservado pela sociedade brasileira, sem riscos de retrocessos que marcaram a história do Brasil e do continente latino-americano.

Neste sentido, a CNTE considera pauta prioritária para a sociedade brasileira a reforma política, capaz de fortalecer os partidos – tornando-os efetivamente representantes dos diversos segmentos da sociedade – e de ampliar a democracia participava no país. O descrédito e a repulsa dos jovens manifestantes com a política (marca registrada nos atos pelo país) expressa a urgência dessa agenda para o Congresso Nacional.

Como consequência da reforma política, a juventude e o conjunto da sociedade brasileira devem exigir reformas estruturantes para consolidar o atual processo de desenvolvimento inclusivo e com oportunidades para todos, o que perpassa por reforma tributária, que priorize a progressividade dos impostos sobre a renda, por maior acesso dos jovens à escola, à universidade e ao emprego, pela garantia de saúde, transporte, segurança, habitação, entre outras políticas públicas previstas na Constituição Federal.

A CNTE entende, também, que as atuais reivindicações ocorrem num momento de consolidação das estruturas democráticas no Brasil e, consequentemente, de uma maior conscientização e liberdade de expressão que goza o povo brasileiro. Mas é preciso superar as práticas políticas anacrônicas, impostas pelas oligarquias que ainda comandam o Congresso Nacional e grande parte dos poderes nos estados e municípios, a fim de qualificar a política e de torná-la o principal espaço de disputa para os jovens, os trabalhadores e a sociedade em geral.

Por fim, é preciso ter atenção com os oportunistas de plantão, especialmente com a grande mídia – patrocinadora do Golpe Militar de 1964 junto com setores da burguesia nacional –, pois esta já tenta vincular os protestos populares à ações contra atores políticos que reconhecidamente têm promovido políticas públicas emancipatórias e de promoção da cidadania no país, com o claro propósito de confundir a opinião pública e assim tirar proveito em favor de setores retrógrados que tentam voltar ao Poder a qualquer custo. E caso isso aconteça, os protestos por mais avanços sociais estarão seriamente comprometidos.

São Paulo, 20 de junho de 2013
Diretoria Executiva da CNTE

terça-feira, 11 de junho de 2013

Após corte de salários, docentes de Juazeiro do Norte entram em greve

Aliny Gama
Do UOL, em Maceió
Professores das escolas municipais de Juazeiro do Norte (a 548 km de Fortaleza) iniciaram uma greve na tarde desta terça-feira (11) para pressionar o prefeito Raimundo Macedo (PMDB) a não assinar o PCCR (Plano de Cargos, Carreira e Remuneração). 
O PCCR foi aprovado pela Câmara de Vereadores, na última quinta-feira (6), e vaireduzir em até 40% os salários dos trabalhadores em educação do município.
Nesta quarta-feira (12) está programada uma passeata, saindo da sede do Sinsemjun (Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Juazeiro do Norte) com destino à prefeitura para pressionar Macedo a não sancionar o novo PCCR.
Segundo o Sinsemjun, apesar da reforma do PCCR ter sido um pedido do prefeito e aprovado pela Câmara de Vereadores, por 14 votos a 2, Macedo tem o poder abrir novas negociações e modificar a reforma.
Os professores prometem que vão continuar os protestos na quinta-feira (13)."Ainda temos espaço para ele abrir negociação antes de sancionar a lei", disse a presidente do Sinsemjun, Maria José dos Santos.
O departamento jurídico do Sinsemjun está tentando anular na Justiça a aprovação do PCCR. Uma das alegações da categoria é que não foi dado espaço para negociação e houve tumulto durante a sessão na Câmara de Vereadores.
De acordo com o sindicato, são 220 profissionais da educação que vão ter redução imediata nos salários e 2.300 que terão perdas graduais.
O sindicato afirmou em nota que as escolas vão funcionar regularmente, pois os professores que não aderirem a paralisação não terão problemas de acesso às escolas. A nota destaca ainda que pais e alunos não terão perdas durante o movimento paredista "pois professores temporários e os que não entrarem em greve vão suprir a jornada".

O outro lado

UOL tentou localizar o prefeito Raimundo Macedo e a secretária de Educação do município, Célia Paiva, durante a tarde desta terça-feira (11), mas não conseguiu.
Em nota oficial, a prefeitura de Juazeiro informou que a reformulação do PCCR teve de ser feita para que as contas municipais pudessem fechar sem débitos e que atualmente para manter o pagamento dos professores como está "extrapola o limite de 60% dos recursos do Fundeb e deixa apenas 13% para investimentos no setor ao invés dos 40% definidos em lei".
O prefeito Raimundo Macedo disse, em nota, que sua preocupação é pagar os salários dos servidores em dia e afirma que a gestão anterior deixou um débito de R$ 5 milhões para serem arcados pela sua administração.
A nota destaca ainda que a reforma do PCCR "em nada alteram a condição dos professores de Juazeiro em continuarem percebendo um dos maiores salários do magistério em nível de Ceará e desafia comparações. Nenhum professor terá seu salário reduzido, conforme garantia dada pelo próprio município."
A procuradoria do município afirmou que "na realidade o que aconteceu foi a incorporação de 10% da gratificação ao salário base."

Currículo empobrecido

Currículo empobrecido

Escolas em tempo integral paulistas eliminam História, Geografia e Ciências dos anos iniciais do Fundamental, o que é visto com desconfiança por especialistas
por Tory Oliveira — publicado 10/06/2013 08:42
nhum comentário e Nenhum comentário
Márcio Fernandes / Estadão Conteúdo
Lisete Arelaro
Para Lisete Arelaro, da FE-USP, ideia que pauta mudanças é datada: "Essa discussão surgiu nos anos 1960, e nos 1980 era difícil encontrar quem defendesse que só Português e Matemática alfabetizam"
Alunos das escolas de tempo integral a rede estadual de São Paulo não terão mais disciplinas específicas de História, Geografia e Ciências Físicas e Biológicas nos três primeiros anos do Ensino Fundamental. A mudança, publicada no Diário Oficial em janeiro, causou polêmica entre professores e profissionais ligados à educação. De acordo com a Secretaria Estadual de Educação de São Paulo, o objetivo das alterações é fortalecer a alfabetização em Língua Portuguesa e Matemática, disciplinas cujo desempenho dos alunos é alvo de avaliações externas como o Saresp e a Prova Brasil, e tornar o ensino mais atraente. Há quem questione, porém, a eficácia de focalizar os esforços e as aulas apenas em Português e Matemática, abordando as demais apenas de forma transversal nos primeiros anos dessa etapa do ensino. A desvalorização das disciplinas fora da grade, a concepção de alfabetização e a influência excessiva das avaliações nas escolas também foram questionadas por especialistas ouvidos pela reportagem.
Nas duas propostas curriculares sugeridas pela Secretaria Estadual de Educação e publicadas no Diário Oficial em 19 de janeiro, o espaço indicado na tabela para as disciplinas História, Geografia e ­Ciências aparece ocupado com um traço. Já Língua Portuguesa, Educação Física/Artes e Matemática aparecem formalmente na grade, com a porcentagem da carga horária indicada. No 4º e 5º ano, as disciplinas excluídas voltam a corresponder, cada uma, a 10% do total do tempo em sala de aula. Nos anos finais, as disciplinas também aparecem.
A mudança causou estranhamento entre os professores e profissionais das áreas de História, Geografia e Ciências. Especialistas de disciplinas que ganharam mais ­espaço no ­novo currículo, como Língua Portuguesa e Matemática, também se manifestaram de maneira contrária à nova resolução. “Nós estranhamos muitíssimo. Até porque é uma modificação que atinge exatamente as escolas de tempo integral, que teriam ­tempo em dobro para trabalhar essas questões”, ­observa Lisete Arelaro, diretora da ­Faculdade de Educação da USP.
A justificativa do projeto de fortalecer o ensino de Língua Portuguesa e Matemática não convenceu a professora da Faculdade de Educação da USP e especialista em alfabetização Silvia Colello. “Eu sou contra, porque acho que não existe língua desvinculada de um conteúdo”, afirma. Na avaliação da especialista, o ideal seria que as disciplinas fossem trabalhadas de forma dialética: o aprendizado da Língua Portuguesa favoreceria a aquisição de conhecimentos oriundos das demais disciplinas e, por sua vez, o interesse pelos conteúdos motivaria a alfabetização e a aquisição da linguagem. Para Lisete Arelaro, essa concepção de ­alfabetização é considerada superada na educação desde os anos 1980. “Essa discussão começou na década de 1960 e na de 1980 já era difícil encontrar alguém da área de Educação que defendesse a posição de que só Português e Matemática alfabetizam.”
Para o historiador Arnaldo Pinto Júnior, professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), o movimento explicita a ideia de que as disciplinas de História, Geografia e Ciências não contribuem para o processo de alfabetização e letramento das crianças. “Essas disciplinas são consideradas supérfluas. A ideia é que elas não qualificam a formação dos alunos em geral, o que nós achamos inverídico”, afirma o professor, que também é um dos coordenadores do GT de Ensino de História e Educação da Associação Nacional de História.
A Secretaria de Educação, porém, informou que não houve nenhuma mudança nas disciplinas da base comum. “O que houve foi um aperfeiçoamento da parte diversificada, com a implementação de atividades complementares e oficinas curriculares com novos temas nas quatro áreas de conhecimento (Linguagem, Matemática, Ciências ­Humanas e Naturais)”, informou a assessoria de imprensa. A Secretaria Estadual de Educação insistiu que as disciplinas já não constavam formalmente na grade nos últimos anos, mas não estão excluídas e são abordadas pelos professores nas demais aulas.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental consideram obrigatórios conteúdos de Ciências da Natureza (Físicas e Biológicas) e Humanas (História e Geografia), além de Português, Matemática, Arte e Educação Física. No entanto, o documento admite a possibilidade de que esses componentes sejam oferecidos de modo interdisciplinar.
Para Arnaldo Pinto, a noção de que é possível trabalhar conhecimentos históricos, geográficos e científicos em outras aulas desvaloriza essas disciplinas: “Se sou um professor que está sendo cobrado para dar aulas sobre letramento, leitura e compreensão e sobre soma, subtração e multiplicação, o que vou fazer? Não vou trabalhar com ­Geografia, História e Ciências”.
Para Antonio Simplício de Almeida Neto, professor do Departamento de História da Unifesp, a mudança elimina a possibilidade de concretização de um movimento que vinha acontecendo nos últimos anos nos cursos de Pedagogia, responsável por formar profissionais para Educação Infantil e Fundamental. A maioria das faculdades de Pedagogia reserva poucos semestres para o ensino de História, geralmente dividido com Geografia. No entanto, nos últimos anos, os cursos estavam ampliando o número de aulas específicas de formação de professores para o assunto. “Os cursos de Pedagogia estavam acordando para a importância de ampliar o número de aulas de formação de professores com maior especificidade no ensino de História”, conta.
Apesar da celeuma causada pela oficialização da nova matriz curricular, Helenice Ciampi lembra que o ajuste faz parte de um processo em curso pelo menos desde 2008, quando outra resolução estabeleceu diretrizes para o currículo do Ensino Fundamental nas Escolas Estaduais de Tempo Integral. Segundo Helenice, as escolas só receberam orientações para o segundo ciclo do Fundamental e para o Ensino Médio na área de História. Quanto à informação de que os conhecimentos seriam trabalhados durante as outras aulas, Helenice é cética: “Esses conhecimentos podem ser abordados em outras disciplinas, mas o professor não se sente obrigado nem é preparado para isso, pois não há orientação”.
Realizado em março, o Fórum São Paulo sem Passado reuniu professores ligados à área na capital paulista para discutir a reforma curricular. Uma das questões levantadas pelos educadores foi a possibilidade de que a mudança no currículo em São Paulo influencie os demais estados. “O que é feito em São Paulo ainda exerce influência em outros estados”, afirma Helenice Ciampi. “São Paulo trouxe a questão do ensino apostilado, por exemplo, que se espalhou depois pelo Brasil.”
Ligado à área da Matemática, Nilson Machado classifica a nova orientação como equivocada. Na opinião do professor da ­Faculdade de Educação da USP, é preciso uma formação básica inicial, em todas as séries, em História, Geografia e Ciências. “O que me parece é que uma medida como essa tem como objetivo pragmático melhorar os resultados em avaliações que cobram Português e Matemática, como o Saresp, no caso de São Paulo.”
Para Machado, as avaliações não deveriam ser tratadas como um fim, mas sim como um meio. “Hoje, não só ela é considerada um fim como passa a pautar os conteúdos que serão abordados nas escolas. Está tudo invertido.”
Para a diretora da Faculdade de Educação da USP, Lisete Arelaro, a corrida pela alfabetização na idade certa e por melhores resultados em avaliações externas tem pressionado as escolas a só ensinar a ler, escrever e contar “como era antigamente”. “É uma visão saudosista do que significa os anos iniciais”, pondera.
Silvia Colello afirma que a medida é uma tentativa desesperada para resolver o grande desafio da alfabetização. O tiro, porém, pode sair pela culatra. Segundo a especialista, estudar assuntos oriundos das demais disciplinas abre um leque de conhecimento de mundo para as crianças e dá sentido ao processo de alfabetização. “Acho que não se pode alfabetizar sem dar para o aluno uma razão para ele aprender a ler e a escrever, e a razão é justamente contar histórias, descobrir o mundo”, pondera.
A nova resolução, na opinião de Lisete, demonstra um retrocesso e um desconhecimento a respeito do processo de alfabetização e da concepção dos anos iniciais do Ensino Fundamental. “Voltamos à ideia de que as séries iniciais existem apenas para alfabetizar e o que alfabetiza é Português e Matemática, o resto é estória, com ‘e’ e não com “h” maiúsculo.”
Outras mudanças
Os alunos do Ensino Fundamental das escolas de tempo integral da rede estadual de São Paulo também serão afetados por outras mudanças. No modelo anterior, havia maior separação entre as disciplinas básicas e as oficinas temáticas, oferecidas sempre no contraturno. A nova diretriz prevê que as disciplinas regulares e as atividades complementares sejam distribuídas de modo alternado ao longo dos dois turnos de funcionamento das unidades, aumentando sua integração. O novo currículo define outros dez temas para as oficinas curriculares, que podem ser obrigatórias ou eletivas, a critério da escola. Nos anos iniciais, as escolas deverão ter pelo menos oito das dez oficinas e nos finais, pelo menos seis. Além disso, atividades complementares como hora da leitura, produção de texto e experiências matemáticas passam a ser obrigatórias para o primeiro ciclo (1º ao 5º ano), assim como o ensino de língua estrangeira.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Como lidar com o racismo?

Professora negra, nascida em Salvador e que atualmente mora em Bremen, revela de modo impecável como são diferentes as maneiras de encarar, debater e lidar com o racismo aqui no Brasil e na Alemanha

Por Cris Oliveira*
“Como você lida com o racismo lá?” Essa era a pergunta que eu mais tive de responder ao voltar ao Brasil depois de meu primeiro ano de Alemanha. A minha resposta, que na época surpreendia à todos – inclusive a mim mesma, era sempre :”Nunca tive de lidar com racismo lá”. Deixa eu explicar direito o porque de minha surpresa e de minha resposta.
Há onze anos eu tinha acabado de terminar a faculdade e queria ter uma experiência no exterior antes de cair de cabeça no mercado de trabalho e de ter de me assumir adulta de uma vez por todas. Como professora de inglês, minha primeira escolha tinha sido a Inglaterra, mas como as coisas graças à Deus nem sempre saem do jeito que a gente planeja, eu acabei conhecendo uma pessoa maravilhosa, que é a tampa de meu balaio, com quem eu decidi dividir minha vida. E ele morava na Alemanha. Resolvi fazer uma pequena adaptação nos meus planos e mudei o destino de minha minha viagem. O amor enche a gente de coragem pra fazer meio mundo de maluquice, mas no fundo, na época eu estava morrendo de medo do que iria encontrar aqui. É que naquele tempo eu não sabia quase nada sobre a Alemanha e o que sabia vinha de livros de história, ou seja, um passado macabro e sangrento. Quando não era isso era uma notícia aqui outra ali, no geral bem limitadinhas e estereotipadas do tipo Oktoberfest e neonazistas. Claro que eu tive medo e claro que estava tensa a respeito do que me esperava.
Quando cheguei o que me impressionou foi perceber o quanto a imagem que se vende deste país é equivocada. Aqui tem sim Oktoberfest e neonazistas. Tem uma série de outros problemas e preconceitos também contra a mulher e contra estrangeiros além de ainda terem dificuldade em lidar com todas as questões que a multiculturalidade traz consigo. A diferença é que os limitados e racistas daqui se escondem muito bem, e quando se mostram, são muito bem punidos. A sociedade debate constantemente sobre a intolerância e a mídia não dá trégua sobre esse tema. As pessoas no geral são cuidadosas com essas questões, são cautelosas nas escolhas das palavras quando não tem certeza se certo termo pode ser ofensivo e pedem desculpas imediatamente quando, sem querer, ofendem. Eu já passei por várias situações em que a pessoa com quem eu estava falando dizia alguma coisa sobre o cabelo ou cor da pele de alguém e logo em seguida me falava “Desculpa que eu falei assim, não sei se isso ofende. Como é o certo?” Eu sempre me emociono em situações como essas porque nelas eu vejo seres humanos, que apesar de não sofrerem a mesma dor do outro, mostram empatia, humildade e vontade de mudar para o bem estar geral.
Teve uma vez que eu estava em um trem e um outro passageiro estava muito incomodado com minha presença. Não estava entendendo bem qual era o problema dele comigo até que ele fez um comentário racista se referindo a mim. Me levantei com a intenção de dizer umas poucas e boas a ele, mas antes de poder abrir minha boca, TODOS os passageiros do vagão (umas 15 pessoas ) se revoltaram e tomaram a frente, discutindo com ele de uma forma que me surpreendeu. A estória terminou com uma mulher que exigia que ele se desculpasse comigo e como ele se recusou os demais passageiros chamaram a polícia. Quem me conhece sabe que eu choro por tudo e claro que chorei no meio daquele fuzuê. Os passageiros me consolavam achando que minhas lágrimas eram por ter sido vítima de racismo. Mal sabiam eles que eram lágrimas de emoção por causa da reação deles. Foi um sentimento muito especial me ver sendo defendida e aparada por um grupo de pessoas desconhecidas. Fiquei pensando que todas elas eram muito diferentes, mas que uma coisa tinham em comum: o senso de justiça e a certeza de que um problema social é um problema de cada um deles. Cada um resolveu por si só levantar a voz e no final das contas eles formavam um grupo que se indignava com o comportamento racista do homem que me ofendeu. Vários passageiros me pediram desculpas depois da confusão. Um senhor me disse “Não deixe esse idiota interferir no que você veio fazer aqui, não. Aqui tem muita coisa boa.” Essa atitude com certeza é uma delas.
cris oliveira racismo*Cris Oliveira é mestra em linguística e professora de inglês (Foto: Blogueiras Negras)
Não são somente as pessoas à caminho do trabalho nos transportes públicos, que se preocupam em mudar a percepção de alguns de que a Alemanha é um país injusto. O governo daqui também investe constantemente em medidas sócio-educativas e reparadoras. Aqui existe cota pra mulher, estrangeiros, portadores de deficiência. Tem benefício pra quem tem filho na escola, pra quem é estudante universitário, pra ajudar a pagar o aluguel, pra ajudar a pagar atividades culturais e educativas se a família tem filho, pra comprar livros, pra comprar remédios e por aí vai. Judeus tem direito de imigrar pra cá sem a burocracia que pessoas de outras confissões enfrentam. A sociedade entende que isso tudo é normal. É raro ver alguém questionando essas medidas. Mesmo os alemães medianos parecem entender que se houve um erro histórico, uma retratação é inevitável. Se existe discrepância social, todo mundo sai perdendo então é melhor ter menos pra ter mais, dividir pra que ninguém deixe de ter. Infelizmente eu percebo que as coisas andam piorando aqui também, mas o povo questiona tudo sem parar e isso atrasa as mudanças negativas, o que é bom.

Aí eu fico pensando no Brasil e de como a gente se orgulha de dizer que somos o país mais tolerante do mundo. A gente se interessa em saber como é a questão do racismo em outras partes do mundo e adora ficar repetindo essa de que somos um povo que não sabe o que é racismo porque é todo mundo misturado. Pra muita gente no Brasil, ativista de movimento negro é paranóico e ações afirmativas é racismo às avessas. Tem um monte de gente que fala como se tivessem sido pessoalmente ofendidas com toda e qualquer iniciativa que busca melhorar a situação social de um grupo que não goza dos mesmo benefícios que o resto da sociedade.
Me choca o fato de que em Salvador, cidade onde eu nasci, apesar de mais de cinquenta por cento da população ser negra, ainda é possível ser a única negra no restaurante, na aula de ballet, na sala de espera de consultório chique, na sala dos professores da escola particular. Fico especialmente triste quando eu percebo que muita gente passa a vida inteira sem nem se dar conta dessas coisas, achando super normal que outros tenham a vida mais difícil que a sua baseado em um detalhe que não se pode escolher, como gênero, cor da pele, origem. Infelizmente, em nosso país tem gente que acha que quem sofre discriminação deve sofrer calado, sem questionar nada, sem exigir mudanças. Deixa quieto que assim tá bom. Pra alguns.
Hoje em dia quando volto ao Brasil e alguém me pergunta como lido com o racismo aqui, minha resposta passou a ser “muito melhor do que eu lido com ele no Brasil”. Aqui se entende que discutir e questionar os preconceitos é trocar idéias e evoluir, já em meu país quem é engajado em alguma causa tem sempre de primeiro explicar que não é nem paranóico nem radical. É triste, mas na verdade sabem como é que eu lido mesmo com o racismo aqui? Guardando minhas forças pra enfrentar ele quando chego em meu país.

FONTES :  Blogueiras Negras  : Pragmatismo Político.

Copa do Mundo e Jogos Olímpicos são desculpas para militarizar o Brasil 09:21 MILTON BITBULL




PackBot 510.(Screenshot from YouTube user irobot)








 Robôs americanos e drones israelenses serão usados durante a Copa de 2014 no Brasil para completar “um dos eventos esportivos mais seguros”

Brasil adicionou 30 robôs militares dos Estados Unidos, drones israelenses e óculos estilo ‘Robocop’ com câmeras de reconhecimento facial para o seu arsenal depois que o país destinou US $ 900 milhões para fazer a Copa de 2014.

Os 30 Packbot 510, que normalmente custam entre US $ 100.000 e $ 200.000 cada, chegarão ao Brasil como parte do acordo de 7,2 milhões de dólares que o país assinou com a empresa americana iRobot Tecnologia Avançada. Os contratos incluem serviços, peças de reposição e equipamentos associados.

“IRobot continua a sua expansão internacional, e o Brasil representa um mercado importante para os veículos terrestres não tripulados da empresa,” disse Frank Wilson, vice-presidente sênior da iRobot. “IRobot quer ser o fornecedor de tecnologias avançadas para o Brasil enquanto o país se prepara para vários eventos internacionais de alto nível, incluindo a Copa do Mundo de 2014″.

O primeiro teste real para os PackBots será a visita do papa Francisco ao Brasil em julho deste ano, e depois serão usados na Copa Confederacoes, Copa do Mundo e Jogos Olímpicos do Rio, em 2016.

Os PackBots são equipados com câmeras e são operados remotamente, a fim de detectar e examinar objetos suspeitos ou explorar ambientes perigosos, mantendo seus operadores seguros.

Os aparelhos pesam cerca de 27 kg e contam com controles de mão no estilo dos videogames, o que os tornam mais familiar para os usuários.

Mais de 2.000 desses robôs militares estão sendo usados atualmente no Iraque e no Afeganistão. Eles foram os primeiros a entrar na usina nuclear de Fukushima, danificada após o terremoto e o tsunami de 2011.

Brasil está gastando US $ 900 milhões para reforçar suas forças de segurança, incluindo equipamentos de vigilância de alta tecnologia e helicópteros antes de iniciar eventos internacionais comoa Copa do Mundo de 2014.

Um policial militar brasileiro usando a tecnologia de reconhecimento facial. (Polícia Militar de São Paulo)

A Polícia do país estará equipada com óculos de câmera de reconhecimento facial que podem capturar 400 imagens faciais por segundo para armazená-las em um banco de dados central de até 13 milhões de rostos.

O Brasil também gastou US $ 25 milhões em quatro drones de fabricação israelense, que são esperados para fazer sua estréia na Copa das Confederações em junho.

Haverá também uma abundância de mão de obra envolvida na operação de segurança como o plano de organização da Copa do Mundo que tem previsto ocupar entre 3.000 e 5.000 soldados das Forças Armadas brasileiras, em cada uma das 12 cidades-sede durante o evento.

Hermes 450 drone.(AFP Photo / Elbit Systems)

“Qualquer sociedade que troque a sua liberdade para ganhar um pouco de segurança não merece nenhuma, e perderá ambas.” — Benjamin Franklin

Menos de 1% das escolas brasileiras têm infraestrutura ideal

Do UOL, em São Paulo*
Apenas 0,6% das escolas brasileiras têm infraestrutura próxima da ideal para o ensino, isto é, têm biblioteca, laboratório de informática, quadra esportiva, laboratório de ciências e dependências adequadas para atender a estudantes com necessidades básicas. O nível infraestrutura avançada inclui os itens considerados mínimos pelo CAQi (Custo Aluno Qualidade Inicial), índice elaborado pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação.
Já 44% das instituições de educação básica contam apenas com água encanada, sanitário, energia elétrica, esgoto e cozinha em sua infraestrutura. 
Esse é o resultado de um estudo feito pelos pesquisadores Joaquim José Soares Neto, Girlene Ribeiro de Jesus e Camila Akemi Karino, da UnB (Universidade de Brasília), e Dalton Francisco de Andrade, da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), intitulado "Uma escala para medir a infraestrutura escolar".
A pesquisa incluiu dados do Censo Escolar de 2011 de 194.932  escolas.
Girlene afirma que ela e os pesquisadores esperavam que os resultados demonstrassem a precariedade de muitas das escolas brasileiras, mas pontua que o percentual de elementares (44%) e de avançadas (0,6%) foi um "choque".
"Sabíamos que encontraríamos diferenças e que a zona rural, por exemplo, apresentaria infraestrutura mais deficitária. Mas não achávamos que seria tanto. O mesmo vale para as diferenças regionais, como é o caso do Norte e do Nordeste, e para as redes municipais, onde se concentram as escolas com as piores condições", afirma.
"A criança, quando chega à escola, tem que ter equipamentos, conforto do ambiente para se concentrar, se dedicar aos estudos e ao aprendizado. O professor precisa de equipamento para desenvolver o trabalho dele, assim como a escola", explica Joaquim José Soares Neto. "O Brasil está passando por um momento em que é consenso que se deve investir em educação. A pesquisa traz uma perspectiva de como orientar esse investimento para resolver um problema que não é simples".

Dados

Para definir uma escala para a situação da infraestrutura, os pesquisadores selecionaram 24 itens de infraestrutura escolar para checar se há sua disponibilidade – ou não – nos colégios públicos brasileiros.

VEJA TAMBÉM

  • Marcelo Justo/Folhapress
    Em 72,5% das escolas brasileiras não há biblioteca
  • Brasil ainda tem mais de 13 mil escolas sem luz
A partir da presença ou não desses itens, as escolas foram distribuídas em quatro categorias. No nível elementar ficam escolas que têm apenas o mínimo para o funcionamento do prédio. 
  • Infraestrutura elementar: Estão neste nível escolas que possuem somente aspectos de infraestrutura elementares para o funcionamento de uma escola, tais como água, sanitário, energia, esgoto e cozinha
  • Infraestrutura básica: Além dos itens presentes no nível anterior, neste nível as escolas já possuem uma infraestrutura básica, típica de unidades escolares. Em geral, elas possuem: sala de diretoria e equipamentos como TV, DVD, computadores e impressora
  • Infraestrutura adequada: Além dos itens presentes nos níveis anteriores, as escolas deste nível, em geral, possuem uma infraestrutura mais completa, o que permite um ambiente mais propício para o ensino e aprendizagem. Essas escolas possuem, por exemplo, espaços como sala de professores, biblioteca, laboratório de informática e sanitário para educação infantil. Há também espaços que permitem o convício social e o desenvolvimento motor, tais como quadra esportiva e parque infantil. Além disso, são escolas que possuem equipamentos complementares como copiadora e acesso a internet
  • Infraestrutura avançada: As escolas neste nível, além dos itens presentes nos níveis anteriores, possuem uma infraestrutura escolar mais robusta e mais próxima do ideal, com a presença de laboratório de ciências e dependências adequadas para atender estudantes com necessidades especiais

Desigualdades regionais

Os dados do estudo revelam que as grandes diferenças entre as regiões do país aparecem também na infraestrutura das escolas. Das 24.079 unidades de ensino da Região Norte, 71% podem ser consideradas no nível elementar, o mais precário. No caso do Nordeste, esse índice ainda se mantém alto, mas cai para 65%. No Sudeste, Sul e Centro-Oeste, o maior percentual de escolas localiza-se no nível básico. Em todas as regiões a taxa de colégios públicos classificados como de infraestrutura avançada não excede os 2%.
Quando observados os dados por redes, as desigualdades também são grandes. Entre as escolas federais, 62,5% podem ser consideradas adequadas e avançadas. No caso das estaduais, 51,3% das unidades são básicas em relação à infraestrutura e, considerando as municipais, 61,8% das escolas são classificadas como elementares.
Outro dado destacado pelos pesquisadores é a diferença entre as escolas urbanas e rurais. "Enquanto 18,3% das escolas urbanas têm infraestrutura elementar, o oposto ocorre em relação às escolas rurais: 85,2% encontram-se nesta categoria", diz o estudo.
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Veja quais são as 20 metas para a educação na década; PNE ainda não foi aprovado20 fotos

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Meta 13 - Professores titulados: Elevar a atuação de mestres e doutores nas instituições de ensino para 75%, no mínimo, do corpo docente, sendo, do total, 35% de doutores Leia mais Silvia Zamboni/Folhapress

Resultado no desempenho

Os pesquisadores não fizeram ainda a relação entre infraestrutura escolar e o desempenho dos alunos. "É necessário correlacionar os resultados das avaliações, como a Prova Brasil, com as condições físicas das escolas. O nível socioeconômico das regiões em que a infraestrutura é insuficiente é também bastante carente. Essa discussão precisa ser feita", afirma Neto.
Para ele, a escala ajuda a apontar quais são as regiões do país que precisam de políticas públicas especiais. "Não interessa onde a criança esteja: ela tem direito a uma Educação de qualidade. Isso pressupõe também uma infraestrutura escolar de qualidade", ressalta. "É preciso mais recursos, com um investimento que seja realizado com eficiência."
O regime de colaboração entre os entes federados, segundo os pesquisadores, também precisa ser reforçado. "Precisamos que Estados, municípios e União trabalhem juntos nessa questão, definindo políticas públicas que atendam a essas escolas com condições físicas piores. É claro que só isso não resolve a qualidade da educação que é oferecida, mas é uma condição para que as escolas funcionem normalmente", afirma Girlene. "Caso contrário, continuaremos a amargar resultados ruins."
Com informações da Agência Brasil e do Todos Pela Educação