Estamos nos aproximando da Mobilização do Dia de Luto e Luta que lembra do golpe aplicado pelo executivo hamburguense, com apoio da câmara de vereadores, que em 2009 extinguiu nosso plano de carreira.
Hoje, substituído por um plano que não valoriza a formação, o novo plano de carreira nem ao menos é cumprido pela prefeitura.
Esse ato ilegal do descumprimento das leis municipais reflete o “Estado Machista”.
A afirmação é da Historiadora , Professora Universitária e Militante Feminista pela Marcha Mundial de Mulheres, Cheron Moretti que cedeu uma entrevista ao SindProfNH falando sobre a Feminização do Magistério.
A afirmação é da Historiadora , Professora Universitária e Militante Feminista pela Marcha Mundial de Mulheres, Cheron Moretti que cedeu uma entrevista ao SindProfNH falando sobre a Feminização do Magistério.
1- Na sua opinião, o que faz as pessoas relacionarem a profissão de professor, principalmente quando se fala em educação infantil, com uma atividade profissional feminina?
Cheron Moretti |
2- O Estado é machista? Como isso prejudica os profissionais em Educação?
O Estado em que vivemos tenta conciliar as contradições de classe, e não superá-las, de tal forma que as suas
instituições servem para garantir a manutenção e os privilégios de uma
determinada classe, a dominante. A questão é que as contradições e
interesses de classe continuam existindo, ainda que tentem nos convencer
do contrário, ou seja, o Estado as controla justamente para
perpetuá-las. No entanto, nossa sociedade não se organiza apenas pela
hierarquia entre a classe trabalhadora e aquela que a explora. Esse
Estado que nada ou muito pouco assegura de bem-comum, sobretudo em
tempos neoliberais, reproduz outra hierarquia: a patriarcal! E é essa
que assegura, também, a desigualdade entre homens e mulheres,
reafirmando papéis e funções sociais para cada uma de nós. Dentre eles, a
do cuidado, como já mencionei anteriormente. Existe portanto,
uma intersecção entre as opressões. Poderíamos aqui mencionar, com muita
legitimidade, a racial/étnica...olhemos para nossa realidade: mulheres
negras recebem menos que mulheres brancas, em termos salariais, e são as
mais precarizadas; ou ainda, quando pensamos em mulheres negras, onde
pensamos que elas estão? Qual o seu papel? Quando olhamos para as nossas
cozinhas e refeitórios: quem nos cuida e nos serve? É sempre esse o
lugar? O Estado e todas as suas instituições se beneficiam disso. O
trabalho docente é desvalorizado constantemente. Existe uma
invisibilidade das opressões que as trabalhadoras da educação sofrem
porque esse tal Estado faz de conta que não tem lado. Por exemplo,
retirar direitos dos professores, em concreto, é precarizar a vida das
mulheres em seu conjunto. Quando não temos creches nos locais de
trabalho, significa que aquela que decidir ser mãe tem que "voltar para
casa". E, isso é muito perverso. Somos maioria no trabalho docente,
sobretudo na educação infantil, assim como responsáveis pela família
vamos sendo atingidas quando a educação não é tratada com prioridade
pelo Estado e suas instituições. (Existe
um funil, conforme os níveis de ensino e também no que se refere à
chefias, nele podemos ter mais presente essa desigualdade experimentada
pela categoria. Quando deveríamos ser vistas em totalidade, o sistema
nos divide na intenção de colocar-nos umas contra as outras. Somos uma
só, professoras.)
3 - A discussão de gênero poderia mudar essa visão que a maioria das pessoas têm sobre o magistério?
Não tenho s dúvidas! É interessante pensarmos, novamente, em termos de
contradições. No último período há um crescente avanço do
conservadorismo. Tanto esse Estado que aí está não é neutro que se quer
tem conseguido cumprir o princípio de laicidade! Ele deveria funcionar
independente das ideias religiosas, inclusive para garantir a
pluralidade de suas manifestações, e o que vemos é um controle e uma
submissão a dualidades que ao longo da História só serviram para
controlar os corpos das pessoas, sobretudo das mulheres. O discurso da
"escola sem partido", ou seja, escola sem utopia (assumo aqui utopia
como visão social de mundo daqueles e daquelas que são excluídas)
elimina todas essas discussões sobre desigualdade entre os gêneros, da
livre orientação sexual, de racismo e dá lugar privilegiado para manter o
sexismo, a trans-lesbo-homofobia, etc... Negar às mulheres e aos homens
de conhecer a sua própria história é negar às pessoas de se
reconhecerem como sujeitos de sua própria transformação. Não
problematizar as desigualdades entre homens e mulheres é garantir a
manutenção à toda ordem de violência sob àquelas que estão "abaixo da
linha da humanização". Parece exagero, certo? Mas, não é! Noutro dia
acompanhava uma jovem mãe que dizia à professora que não gostaria de ter
de assumir a orientação da escola sobre o uso de mini-saias a sua
filha. Sua reivindicação era de que os meninos deveriam ser educados a
respeitar às meninas e não o de se estabelecer normas, comportamentos,
"próprios" para as meninas através da restrição do uso de uma
determinada vestimenta. Mas, a escola não compreendeu o que essa mãe
demandava: no fundo, uma educação igualitária. Bem, aí chegamos a um
ponto crucial: a escola pode reproduzir a lógica patriarcal. Em outros
termos, mudar a visão que a maioria das pessoas possuem sobre o
magistério passa pelos currículo das universidades, na formação dos
professores e professoras, mas também na educação de novo homem e da
nova mulher, seja na escola, desde o ensino fundamental (que até agora
tem dito que azul é cor de menino e rosa é cor de menina, etc) mas
também em nossa sociedade. Quem forma quem nos governa? Quem cria e
ocupa as instituições do Estado? A escola não transforma a realidade
sozinha, mas ela é fundamental para que "sejamos socialmente iguais,
humanamente diferentes e totalmente livres", como um dia nos afirmou
Rosa Luxembrugo.Acho que tudo isso que conversamos aqui, está muito mais
perto que supomos. Se há culpados, não somos nós as professoras.
Nesta semana o SindProfNH promoverá uma formação com a Ativista do Movimento Contestação/ Intersindical, Letícia Maria. O tema será Feminismo e Educação: As Relações de Gênero e a Valorização do Trabalho Docente.
O Encontro é gratuito, aberto a todos os professores da rede e ocorrerá nesta quinta-feira, 29 de outubro, às 18h na sede do SindProfNH, rua Gomes Portinho, nº 17, sala 606. Participe.
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