Segue carta aberta da Professora Andreza Formento sobre sua experiência em relação à distorção de valores e as políticas machistas da Secretaria Municipal de Educação de Novo Hamburgo.
Novo Hamburgo, 28 de setembro de 2015.
Sou
mãe, mulher, esposa, trabalhadora, estudante e guerreira. Com muito orgulho. E
nem Cristiane Sousa ou SMED me representam.
Quando
estive à frente do SindProfNH fui perseguida politicamente pelo então secretário
de educação Beto Carabajal. De um dia para outro trocaram meu local de trabalho,
que foi oportuno para o município durante dez anos.
De 10
Km, meu trajeto virou 30 Km diários, dos quais tive que fazer através de
caronas, pois nem transporte público existe para o local. Como mãe, me foi
tirado o direito de almoçar com minhas filhas. Não pude levar elas para a
escola ou buscá-las. Não pude conversar com as professoras para saber como
estava sua aprendizagem porque além da minha jornada de trabalho, a distância
entre as escolas fizeram tal tarefa ficar impossível.
Durante “meu castigo”, minhas filhas foram
penalizadas, pois várias vezes recebi ligações da escola das crianças pedindo
para buscá-las porque haviam se sentido mal, estavam com febre ou haviam se
machucado e eu, não pude fazer meu papel de mãe, pois estava longe, de carona,
sem possibilidade de ir ao encontro delas.
Não
somente eu MÃE, tive meu direito negado. Minhas crianças também tiveram. Não
somente eu MULHER fui perseguida pela política machista, mas a TRABALHADORA, a
PROFESSORA que deixou suas turmas, sua comunidade, contra a vontade de todos,
para que o governo pudesse afirmar suas políticas. Nem SMED, nem Cristiane
Sousa me defenderam, lutaram ao meu lado ou cobraram providências diante de tal
ato machista contra minha pessoa, ou minha família.
Não vi
políticas para mulheres neste governo. Não vi a SMED trabalhando pelas mães,
pelos filhos ou famílias das funcionárias. Nunca vi a Secretária se mostrar
solidária com o fato de que, além da minha jornada de trabalho em sala de aula,
preciso sustentar minha casa, dar conta do trabalho doméstico e encontrar
forças para sorrir para minhas filhas, ajudá-las nos temas, brincar e colocá-las
para dormir. E então, poder fazer planos de aula, corrigir provas e fazer
boletins.
Se a
Cristiane Sousa pensasse na MULHER, TRABALHADORA, MÃE... jamais exigiria que,
além da carga horária que faço por meus alunos - porque é meu trabalho e porque me sustenta
- precisasse fazer muitas mais, tirando
o direito das minhas filhas de terem a MÃE em casa. Tirando o meu direito de
ser MULHER. Levando à exaustão a professora TRABALHADORA.
“Machista,
autoritária e agressiva” é a senhora. Que tira das mulheres o direito de
permanecer nos seus locais de trabalho depois das licenças gestante, que tira
dos filhos o direito da amamentação, que não leva em consideração as adaptações
nas escolas, que não luta por auxílio creche, nem garante que as professoras
trabalhadoras de Novo Hamburgo tenham vaga para seus filhos.
VERGONHA,
senhora Cristiane é a senhora “esquecer” das lutas das mulheres e usar de uma
fragilidade que você não tem para mascarar a realidade que assola o magistério.
Seu oportuno ressentimento com a charge não passa de um subterfúgio para tirar
a atenção do fato vergonhoso de você, CONCURSADA, dar continuidade a uma política
educacional deturpada que retira direito dos estudantes e que desvaloriza as trabalhadoras, suas colegas. Uma política que é contra o direito de engravidar,
que não respeita o tempo de adaptação da mãe e do bebê.
Reitero
minha fala inicial, a SMED e a Cristiane Sousa não me representam nem como MÃE,
nem como PROFESSORA, nem como MULHER. E acredito firmemente que não representam quem
perdeu o plano de carreira, quem não consegue se aposentar, quem não tem hora
atividade, quem foi transferido de sua escola um dia antes do retorno POR TELEFONE...
Seria essa uma pedagogia humanizadora?
Andreza Mara Formento
Professora Concursada 20 anos na Rede Municipal de Ensino de NH
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