sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

CONSELHOS ESTRANHOS

No desenvolvimento de nossas atividades somos surpreendidos por situações paradoxais. E o paradoxo, às vezes, é tão gritante que passamos por ele sem examiná-lo, descrentes de uma possível decodificação.

Ao ler um texto com sugestões do Banco Mundial para melhorar a qualidade da educação no Brasil, começaram a surgir, intuitivamente, algumas interrogações.

Em primeiro lugar, fatos que sempre achei inconcebíveis são setores, constituídos por indivíduos que nunca ministraram uma aula, sem nenhuma ideia das inúmeras variáveis que permeiam a educação, sugerirem mudanças para melhorá-la.

Invariavelmente apontam metas e critérios da atividade privada como forma de revolução, de melhora. Esses senhores, que dizem entender de tudo, que defendem a meritocracia aplicada nos diversos setores da economia privada, esquecem de um dado: quando suas fórmulas mágicas não funcionam no setor privado, procuram salvação no dinheiro público.

É irônico o fato de instituições bancárias, financeiras, acharem-se portadoras de competência para sugerir fórmulas para melhorar a educação. Uma pergunta que não quer calar: Por que não aplicam seus conhecimentos no setor em que desenvolvem suas atividades?

Por que com todas suas competências, metas a serem atingidas, instituições financeiras continuam a falir?

Em novembro passado, acompanhamos o caso de uma instituição onde foi descoberto um rombo de bilhões. Peritos examinaram os números da instituição e parece mesmo que o caso foi de “maquiagem de balancetes”.

Pois essas instituições que maquiam números, que no ano passado provocaram grande colapso na economia mundial, vivendo da exploração inescrupulosa do capital sobre o trabalho, que cobram juros astronômicos de países pobres e que visam apenas o lucro e obtenção da mão de obra barata, se julgam no direito de opinar sobre a educação. Não é um paradoxo?

Lembro bem do comentário do escritor português José Saramago, Nobel de Literatura, ao comentar a crise mundial provocada pelos bancos no ano passado: “É coisa de bandidos, criminosos, deveriam ser julgados por crimes contra a humanidade...” Onde estavam os peritos do Banco Mundial no momento de evitar o colapso financeiro internacional?

Outra pergunta que não pode silenciar: Por que com tanta competência, com tantas metas cumpridas, precisam tantas vezes se socorrer do dinheiro público? Aliás, dinheiro público que deveria ser aplicado na educação, saúde e segurança.

E a questão derradeira: Será que bancos são fontes fidedignas para sugerir melhorias na educação? Talvez... Poderíamos aprender com eles a tal meritocracia, que traria consigo ensinamentos de como atingir metas e fazer malabarismos numéricos para esconder a realidade educacional.

Siden Francesch do Amaral
Diretor e Representante 1/1000
do 14º Núcleo do CPERS/Sindicato

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