No último dia 17, a ACI NH/CB/EV publicou em suas redes sociais uma nota com referência a um documento entregue à Prefeita Municipal Fátima Daudt em que enumera “sugestões para colaborar com a gestão da área pública”. Há elementos pertinentes, como a preocupação com lotação dos transportes coletivos e com a urgente instalação de um Hospital de Campanha em Novo Hamburgo, sobretudo agora, momento em que Novo Hamburgo encontra-se sob a bandeira vermelha. Entretanto, em trechos, a referida nota recai em falácias recorrentes sobre o funcionalismo público.
Primeiramente, destacamos a crítica feita pela entidade empresarial à estabilidade dos servidores públicos, cuja a nota menciona: “Somos sabedores que a estabilidade, mais que nunca, é um mal e uma injustiça para as administrações, e são consagrados constitucionalmente”. O trecho apresenta uma certeza: a estabilidade é consagrada constitucionalmente. Porém, o restante não condiz com a realidade.
A estabilidade é fundamental, pois garante a impessoalidade, que é um dos princípios que rege a Administração Pública e que estabelece que todas as ações dos servidores e administradores públicos devem ser de acordo com o interesse coletivo. O administrador não poderá se utilizar de obras ou serviços para promoção pessoal ou partidária, ou até mesmo para favorecer aquele “amigo, parente, conhecido”. Isso dá segurança para que o servidor público exerça a sua função, não devendo sofrer interferências de terceiros.
Antes da Constituição Federal de 1988, os servidores entravam por indicação e, desses, muitos por serem “amigos do rei”, o famoso “cunhadismo” como trata a literatura. Podiam, também, ser demitidos por qualquer motivo, inclusive por desafeto pessoal ou por interesses políticos. Há o mito de que o servidor público não pode ser demitido. Isso ocorre desde que seja comprovado que ele não cumpriu com suas obrigações e/ou infringiu a lei. E para o funcionalismo público a lei é mais rígida: suas ações são determinadas inteiramente pela legislação.
Em outro momento, a nota da ACI NH/CB/EV se direciona ao funcionalismo municipal: “O Funcionalismo da Prefeitura vem recebendo integralmente o seu salário ficando em casa ou trabalhando turno único. (...) aos que estão trabalhando turno único, sugerimos o pagamento proporcional do salário, com eliminação do auxílio-alimentação, e para os que estão em casa deixarem de receber o auxílio-transporte”.
Destacamos que já tivemos redução na remuneração, pois não estamos recebendo auxílio alimentação, nem vale transporte. Em relação ao primeiro, questionamos, pois não estamos sem trabalhar, e quem está em casa não o faz por opção: há os que possuem comorbidades, ou estão com horário reduzido para evitar aglomerações, ou ainda realizando atividades em suas casas. Há ainda aqueles que atuam em serviços essenciais que seguem com suas atividades, expostos aos riscos existentes.
Há o caso dos(as) professores(as), que seguem atuando à distância, dentro dos limites impostos pela realidade objetiva. Realizam reuniões por escola, com as assessorias da SMED, formações, além de buscar interagir com alunos e famílias para a manutenção de um vínculo destes com as escolas, mesmo que à distância.
Dessa forma, manifestamos repúdio ao trecho da nota que dissemina inverdades ou informações descontextualizadas sobre os servidores públicos. Ademais, para uma Associação que representa a Indústria e o Comércio, cujo consumo de serviços e bens é garantidor de toda a sua existencialidade, requerer a diminuição dos salários de quem quer que seja é, no mínimo, uma imperspicácia, afinal quem irá consumir sem poder aquisitivo para tal?
Mas se este argumento não é o suficiente para que a referida Entidade defenda que todos recebam seus salários (integrais e em dia), pode ser que seja por uma falta de desconhecimento da realidade da própria cidade, tomada de desigualdades, em que milhares de hamburguenses, seus filhos e filhas, precisam de escola pública, saúde pública, segurança pública e assistência social e, por isso, os serviços e servidores públicos se fazem tão necessários. Ao ser contra os servidores públicos, se é contra a Constituição e todo o acesso de direitos fundamentais, que garantem uma vida minimamente digna em um país cada vez mais desigual.
Sindicato dos Professores Municipais de Novo Hamburgo
Grêmio Sindicato dos Funcionários Municipais de Novo Hamburgo
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