Sala de aula lotada, barulho dentro e fora da escola, desrespeito dos
alunos, acúmulo de turmas em vários colégios, excesso de pressão dos
gestores. Tudo isto pode causar bem mais do que frustração e desânimo ao
receber o contracheque no final do mês. A falta de infra-estrutura e de
condições de trabalho é considerada uma das principais causas doenças que
afetam o magistério. São males que atingem o corpo e a mente e retiram, a
cada ano, milhares de profissionais das escolas.
As pressões do dia-a-dia se refletem em vários sintomas. Depressão,
sensação de esgotamento físico e mental e desânimo são indícios da chamada
síndrome de burnout, que se caracteriza por um desgaste que afeta o interesse
e a motivação em
trabalhar. Crises de choro, de medo e pânico podem ser
sinais de que o profissional sofre assédio moral.
Os professores também sentem no corpo as conseqüências das más condições
de trabalho. Problemas com a voz, alergias, tendinites, distúrbios do sono,
distúrbios sexuais, alterações da atenção e da memória, irritabilidade,
agressividade, dores na coluna e de cabeça e problemas cardíacos também estão
entre os males que afetam muitos dos que ensinam nas escolas. Psicóloga
clínica e hospitalar e mestre em Psicologia pela UFRJ, Elaine Juncken diz que
o ambiente de trabalho contribui e muito para estas doenças. "Pode ser
uma questão relacionada a um ambiente muito competitivo, onde não há
tranqüilidade para trabalhar e onde o profissional é desrespeitado com
freqüência", disse Elaine.
Um dos riscos é o professor não procurar ajuda médica, por achar que os
sintomas estão ligados só a problemas pessoais. Até porque, segundo a
psicóloga, as conseqüências vão além da queda na qualidade do trabalho."O professor pode abandonar a carreira e, em casos extremos, as doenças
podem levar o profissional ao suicídio", alertou a doutora.
Distúrbios de natureza psíquica podem ocorrer com várias tipos de
profissionais. E os professores integram uma das categorias mais suscetíveis,
segundo a também psicóloga e professora da PUC-Rio, Sandra Korman. Uma das
causas, segundo ela, é a falta de reconhecimento profissional. "Se o
professor faz um bom trabalho, ninguém o procura para dizer que foi bem
feito. Agora, se o aluno vai mal, a culpa costuma recair sobre quem
ensina", comentou a psicóloga.
Sindicatos cobram melhoria nas condições de trabalho.
Para representantes dos professores, problemas como baixos salários,
turmas lotadas, carência de pessoal para disciplinar o ambiente escolar,
alunos mais violentos e falta de infra-estrutura criam a combinação perfeita
para derrubar a motivação e levar muitos docentes a hospitais.
"A sensação de fracasso é muito grande. Os alunos estão em condições
cada vez piores e o culpado é sempre o professor quando, na verdade, a culpa
é dos governos que mudam as políticas educacionais e não conseguem alcançar a
qualidade", defendeu Wíria Alcantara, uma das diretoras do Sindicato
Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe).
Quem também reclama das condições de trabalho dos professores é a
presidente da União dos Professores Públicos no Estado (Uppes), Teresinha
Machado. Segundo ela, falhas de planejamento na construção das escolas
comprometem a saúde dos profissionais, como escolha de locais próximos a vias
de grande circulação para instalação de colégios. Ela também chama a atenção
para um problema específico em Cieps, que têm parte de suas paredes pela
metade, de acordo com o projeto original. "O Inmetro fez um estudo e
concluiu que o barulho era enorme e que os locais não eram indicados para
prática pedagógica", diz a sindicalista, que destaca outras causas de
doenças dos professores.
"A iluminação das salas e a posição do quadro negro, muitas vezes,
não são adequadas. Além disso, o uso do giz traz alergia. Isto sem falar no
agravamento da violência na escola e das pressões políticas e ameaças de
transferência, que geram estresse, insegurança e pânico para os
profissionais", frisou a presidente da Uppes.
Quando a readaptação também vira problema.
Solução freqüente para profissionais com problemas de Saúde, a readaptação
também traz seus prejuízos para os professores. Lectícia Azeredo, que passou
a trabalhar na biblioteca da escola João Brasil, em Bom Jardim, após ter
ficado cega, não consegue a aposentadoria especial por não atuar mais em sala
de aula.
O drama de Lectícia começou em 1997, quando sofreu um transplante de
córnea. Quinze dias após voltar ao trabalho, uma infecção causou a cegueira.
"Com a readaptação, passei a ser extraclasse e perdi o direito de me
aposentar com 25 anos de carreira ou 50 de idade."
Ela já poderia estar aposentada nas duas matrículas que tem. No entanto,
aguarda a liberação do benefício para uma das matrículas e precisa trabalhar
mais quatro anos para fazer a solicitação referente à outra.
"Às vezes, a pessoa não se adapta e, por isso, pede readaptação. Meu
caso é diferente. Eu não pedi pra ser readaptada. Foi uma fatalidade. Não
devia ser penalizada desse jeito", disse Lecticia, que não quis se
aposentar por invalidez pela perda que teria, em termos de renda.
"Ficaria com 80% do salário. Já se ganha pouco. Se reduzisse o salário,
ficaria mais difícil ainda."
Em pesquisa com professores, 95% acusaram problema na voz.
Uma pesquisa concluída pelo Sindicato dos Professores do Município do Rio
e Região (Sinpro-Rio) em 2008 oferece uma amostra do impacto que o trabalho
nas salas de aula pode ter nas condições de saúde. Dos 1.579 docentes
entrevistados em 219 instituições privadas da cidade, 93,5% informaram ter
sentido, pelo menos, um problema com a voz.
Quase todos os participantes eram da Educação Básica. Dos consultados,
78,4% indicaram que ficam roucos quando abusam da voz. Em seguida, veio o
cansaço e a ardência na garganta após o dia de aulas, com 67,4%. Dos
entrevistados, 60% afirmaram que precisavam procurar um fonoaudiólogo.
A partir dos resultados, o sindicato pretende encaminhar uma proposta ao
Ministério da Educação, para incluir a matéria Técnica Vocal em cursos de
formação de professores. "Seria importante o professor aprender sobre o
mecanismo de produção da voz e sobre técnicas de como preservá-la durante as
aulas", ressaltou Eny Léa Gass, coordenadora da campanha Voz para
Educar, que originou a pesquisa. Para a fonoaudióloga, o educador é uma das
maiores vítimas do uso abusivo da voz. "É comum o profissional dar aula
em três períodos e em turmas com excesso de alunos", salientou.
Outro objetivo é que as disfonias sejam oficialmente reconhecidas como
distúrbios da voz relacionados ao trabalho. Isto permitiria aos mestres da
rede privada tirar licença médica pelo INSS. Sem esta possibilidade, muitos
dos que apresentam problemas com a voz acabam demitidos.
http://www.saudedoprofessor.com.br/Imprensa/2603092.html
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segunda-feira, 11 de março de 2013
AS DOENÇAS DO MAGISTÉRIO
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