sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O ANTI-DENOREX


JUREMIR MACHADO DA SILVA


Esta coluna é aberta. Quando ouve, dá voz a todos. A editora Sulina, de Porto Alegre, está lançando o livro "Vida e Morte do Grande Sistema Escolar Americano", de Diane Ravitch, "uma das mais bem conhecidas especialistas em educação dos EUA, ex-secretária assistente de educação e líder do movimento para a criação de um currículo nacional". A apresentação da obra é cristalina: ela "repudia posições que anteriormente defendeu firmemente. Baseando-se em 40 anos de pesquisa e experiência, critica as ideias mais populares de hoje para reestruturar as escolas, incluindo a privatização, a testagem padronizada, a responsabilização punitiva e a multiplicação irresponsável de escolas autônomas". Ela dá no fígado. Ataca o tido por moderno.

"Demonstra conclusivamente por que o modelo empresarial não é uma forma apropriada de melhorar as escolas. Usando exemplos de grandes cidades, como Nova Iorque, Filadélfia, Chicago, Denver e San Diego, Ravitch evidencia que a educação de hoje está em perigo. Inclui propostas claras para melhorar as escolas americanas: deixe as decisões sobre as escolas para os educadores, não para os políticos ou empresários; construa um currículo verdadeiramente nacional que estabeleça o que as crianças em cada série deveriam estar aprendendo." Aqui vem o soco no estômago: "Pague um salário justo aos professores pelo seu trabalho, não um salário por mérito baseado em pontuações de testes profundamente falhos e não confiáveis; encoraje o envolvimento familiar na educação logo a partir dos primeiros anos". Ficou claro? Não? Parece contrariar tudo o que está sendo dito no Rio Grande do Sul atualmente.

Elogios não faltaram na mídia e nas esferas especializadas. E. D. Hirsch: "Nenhum cidadão pode se dar ao luxo de ignorar este bravo livro da nossa grande historiadora da educação. Diane Ravitch lança uma brilhante luz corretiva sobre as alegações exageradas dos reformadores escolares, tanto à esquerda como à direita". Howard Gardner: "Diane Ravitch é uma acadêmica das mais raras - alguém que relata seus achados e conclusões, mesmo quando eles vão contra a sabedoria convencional e quando eles contradizem suas posições públicas anteriores. Uma leitura obrigatória para todos que realmente se importam com a educação americana".

O livro foi indicado para a Sulina por José Clóvis Azevedo antes de tomar posse como secretário estadual da Educação. O secretário sustenta que não está em contradição e que o governo não aplicará um programa de meritocracia, mas apenas uma objetivação dos critérios para a promoção, já existente, por merecimento. Faz pensar no Denerox, que era um produto capilar cuja propaganda tinha um bordão: parece, mas não é. Avaliação por mérito, de acordo com as ideias de Diane Ravitch, parece meritocracia. E é. Uma modernidade atrasada. O tempo do anti-Denorex parece que chegou. Difícil vai ser convencer os professores de que é pelo bem deles. Falhou nos Estados Unidos. Será realmente uma boa por aqui? Seria o caso de convidar Diane Ravitch para uma palestra.

JUREMIR MACHADO DA SILVA é professor, jornalista e escritor
 Reprodução: http://www.cpers.org.br

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