Por Marino Boeira |
No início dos anos 90 do século passado, o historiador nipo-americano Yoshihiro Francis Fukuyama decretou que a história havia chegado ao fim, com a queda do Muro de Berlim e transformação dos Estados Unidos na única grande potência da terra.
Poucos anos depois, esta teoria começou a ser desmontada pelas repetidas crises do sistema capitalista, que levaram à bancarrota importantes países ocidentais e desestabilizaram a própria economia norte-americana, enquanto a China, com a sua economia controlada com mão de ferro pelo governo, só fazia crescer. Na esteira dessas crises cíclicas, o que restava dos estados de bem estar social, foram se dissolvendo, com o desemprego crescendo e as liberdades públicas sendo abafadas.
A estabilidade política mundial, que Fukuyama via como garantida pelo poder americano, transformou-se em guerras sem fim no Iraque e no Afeganistão. E o que ele não previu, a emergência de movimentos nacionalistas e democráticos no Oriente Médio, ganhou força como nos casos do Egito e da Tunísia.
As ideias de Fukuyama de que o capitalismo neoliberal seria o ponto final da história do homem na terra já foram jogadas no lixo, mas o seu complemento político, a democracia parlamentarista, permanece entre os grandes formadores de opinião – mídia, partidos políticos, entidades empresariais, sindicatos, universidades – como a melhor forma de administração dos estados.
Na América do Sul, na África, no Oriente Médio e em muitos países asiáticos, onde este tipo de democracia nasceu sobre o desmonte de ditaduras militares, realmente foi um avanço extraordinário, mas está longe de indicar o fim do caminho.
Veja-se o caso brasileiro, onde o sistema democrático nos moldes atuais tem pouco mais de 20 anos. É muito melhor, obviamente, do que foi no passado. A tortura, pelo menos para fins políticos, desapareceu. As liberdades públicas ganharam impulso. Tudo é verdade. Mas, até que ponto vivemos uma verdadeira democracia, onde a vontade da maioria prevalece?
Os deputados e senadores que, teoricamente, fazem as leis em nome do povo, chegam ao Parlamento alavancados por imensas verbas de grupos empresariais. Os partidos, que elegeram a presidenta e os governadores, vivem dos mesmos financiamentos. É difícil imaginar que eles possam em suas decisões contrariar os interesses desses grandes financiadores.
Além desse caráter de classe, existe na Câmara de Deputados, no Senado e nas Assembleias Legislativas, uma total falta de constrangimento por parte de um bom número de parlamentares em condicionar seus votos em projetos de interesse da população ao recebimento de vantagens pessoais. O que antes era feito veladamente, hoje se torna público. Partidos só votam certas leis se ganharem posições que lhes permitam oferecer empregos e salários para seus dirigentes. Um exemplo escancarado desse posicionamento deu-se no Rio Grande do Sul, onde o PTB, um partido que hoje participa do governo do PT, mas que também participou nos governos anteriores do PMDB e PSDB, confessou que cada um dos seus deputados recebe 80 mil reais por mês em cargos públicos para apoiar o Governo.
É difícil acreditar que partidos com esta disposição de barganhar cargos ajudem a formar um sistema democrático razoável. Embora a possibilidade de se viver uma democracia plena só seja possível dentro de um modelo socialista de governo, o atual formato de democracia parlamentar capitalista poderia ser aprimorado. Algumas medidas já são discutidas, mas, pela resistência dos interessados na manutenção da situação atual, dificilmente serão implementadas. Entre elas, o financiamento público das campanhas eleitorais e o estabelecimento do controle social dos meios de comunicação, para impedir que sejam usados na perpetuação do atual modelo.
25/6/2011
Fonte: ViaPolítica
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