Conscientizar os atores sociais das cidades sobre a exaustão do modelo atual e cobrar do poder público ações que promovam a sustentabilidade dentro das cidades. Essas são duas das principais preocupações expressas na Carta de Intenções para uma Cidade Sustentável, definida durante o Fórum Social Temático – Sustentabilidade Urbana, realizado em Novo Hamburgo (RS), no último dia 25.
A carta pretende contribuir a uma reflexão sobre a “aplicabilidade, no cotidiano da vida nas cidades, do conceito de sustentabilidade urbana, visando à construção de um modelo alternativo de cidade para ‘um outro mundo possível’”. “Acreditamos que se fazem urgentes e necessárias estratégias que sejam ambientalmente sustentáveis, economicamente viáveis e socialmente igualitárias”, continua o documento, frisando a necessidade de que o planejamento de tais ações respeite as características históricas, geografias e culturais de cada cidade.
A carta foi encaminhada à coordenação do Fórum Social Temático, realizado em Porto Alegre entre os dias 24 e 29, e farão parte das discussões da Cúpula dos Povos, em junho, no Rio de Janeiro. O evento reunirá movimentos sociais de todo o mundo em atividades paralelas à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável Rio+20, com a presença de mais de 100 chefes de Estado.
Entre as principais propostas expressas na carta, estão: promoção, por meio da educação, de uma cultura de sustentabilidade planetária; ampliação da participação social, tanto na construção dos planos diretores de cada cidade quanto por meio da criação de fóruns permanentes de debate; fomento à agricultura familiar; utilização de transportes coletivos e a construção de ciclovias e espaços seguros de deslocamento de pedestres; e a criação de áreas verdes urbanas, entre outras.
Para Mouzar Artur Dietrich, diretor-geral da Serviços de Água e Esgoto de Novo Hamburgo (Comusa ) e um dos organizadores do FST na vidade, fórum superou as expectativas tanto em termos de público quanto pelo conteúdo discutido. “Esperavamos cerca de 700 pessoas, mas tivemos a participação de mais de mil. Creio que o tema que escolhemos foi muito feliz”, disse em entrevista por telefone. Leia os principais trechos:
Qual sua avaliação sobre o Fórum Social Temático em Novo Hamburgo?
Superou nossas expectativas, tanto em termos de conteúdo quanto de público. O tema que escolhemos foi muito feliz. Quando se pensa em meio ambiente, em geral pensamos em rios e florestas, mas esquecemos que no Brasil 80% da população hoje vive em cidades. Tivemos o cuidado de preparar uma conferência inicial sobre problemas nas cidades e alternativas experimentadas no mundo inteiro, feita por um núcleo sobre problemas urbanos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e que conseguiu concentrar muito bem questões que envolvem a cidade agora e em 20, 50 anos.
Qual a importância do tema sustentabilidade urbana?
O fato é que o planeta vive em função das cidades, para abastecê-las de matéria-prima, água, recursos naturais. Se isso não for resolvido, não teremos chance. Atualmente, se todas as pessoas mantiverem um padrão médio de sobrevivência equivalente ao de Curitiba, por exemplo, precisaríamos de 1,5 os recursos naturais do planeta. Estima-se que, daqui cinco anos, essa relação será de 2,5 planetas. Vai faltar água, alimento etc. Precisamos discutir possibilidade de mudança disso. Sustentável é a cidade que estará aqui para as próximas gerações, sem que precisemos, no futuro, pensar mecanismos a mais para a geração da vida. Hoje, isso não acontece. Comida, água, combustível, energia, tudo vem de fora das cidades, o que as torna insustentáveis.
Que tipo de propostas foram citadas para a promoção da sustentabilidade?
A modificação de planos diretores para construir prédios que usem menos ar condicionado, por exemplo. Que não necessitem tanto de energia elétrica nem de luz ligada. Prédios muito altos provocam sombras. Há proposta de casas que se auto-sustentam, geram energia por células fotoelétricas, reaproveitam água. A cidade plantar seu próprio alimento é uma prática interessante. Em Cuba, as cidades têm hortas urbanas. Plantam árvores frutíferas nas praças, em todo canto tem hortas. Isso diminui a distância para o abastecimento das cidades. Em relação ao transporte urbano, é preciso pensar uma forma para que as pessoas morem perto do serviço, para não precisarem atravessar a cidade para trabalhar, atravessar de novo para estudar e depois para chegar em casa. Em Bogotá (Colômbia), foi feita uma revolução com a construção de ciclovias, proibindo o estacionamento de carros no centro da cidade e incentivando o uso de bicicletas. Hoje, é mais rápido andar no centro de bicicleta do que carro ou ônibus, além de poluir menos.
Reprodução: http://www.redebrasilatual.com.br
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