No próximo domingo, o eleitor brasileiro
decide quem haverá de governar seu município – o novo prefeito – e quem haverá
de governar o governante – os novos vereadores
05/10/2012
Frei Betto
Neste domingo, 7 de outubro, eleitores brasileiros irão às urnas –
exceto em Brasília, Distrito Federal – para eleger novos prefeitos e vereadores
O voto é uma conquista do direito de o povo decidir quem, em seu nome,
deve ocupar as instâncias de poder. Durante séculos, a população ficou
submetida a governos monárquicos, absolutistas, que nem sequer admitiam a
existência de parlamento. A sucessão no trono dependia apenas da linhagem
familiar. Como ainda hoje ocorre na Arábia Saudita, com o apoio dos
EUA, e na Coreia do Norte, com o apoio da China.
A Revolução Francesa, em 1789, cortou a cabeça dos reis e instalou um
governo popular. Já a coroa britânica havia admitido o parlamento desde o
século 13. Assim, aos poucos o poder deixou de ser monopólio de uma família ou
casta para ser ocupado por aqueles escolhidos pelo voto popular nas
urnas.
Embora nosso atual sistema democrático esteja longe da perfeição, foi
graças a ele que, nas últimas décadas, se elegeram presidentes de países da
América Latina tantas personalidades incômodas aos interesses dos EUA no
Continente, que sempre tratou a região como se fosse sua colônia. Vide o
protesto de Obama às medidas protecionistas tomadas pela presidente Dilma em
prol dos produtos brasileiros.
É o preço que a Casa Branca paga, hoje, por propalar tanto as
virtudes da democracia e ter implantado ditaduras militares em nosso
Continente, inclusive no Brasil (1964-1985). Quem conhece a história dos EUA
sabe como Tio Sam sempre foi mestre em pregar uma coisa e fazer outra,
exatamente o contrário.
No próximo domingo, o eleitor brasileiro decide quem haverá de
governar seu município – o novo prefeito – e quem haverá de governar o
governante – os novos vereadores.
Em política não há indiferença. Participa-se por omissão ou opção. E
quem não coloca na urna um voto válido, que pesa na matemática do quociente
eleitoral, acaba reforçando, com seu voto inválido, os candidatos à frente nas
pesquisas eleitorais.
Serão eleições livres e democráticas as de domingo? Ainda não.
Porque estarão condicionadas pelo poder econômico. Candidato que mereceu
robustos recursos financeiros se tornou mais conhecido que os demais. Sua
imagem, maquiada pelas campanhas publicitárias, que têm poder até de
transformar demônios em anjos, se projetou mais amplamente na opinião pública.
Quem não contou com recursos certamente merecerá votos que irão favorecer os
candidatos mais conhecidos de sua legenda ou partido.
Enquanto não pressionarmos para que haja reforma política já, temos que
dançar conforme a música do atual sistema político. Ela não é tão maravilhosa quanto
gostaríamos. Mas é bem melhor que uma ditadura que fecha Câmaras de Vereadores
e Assembleias Legislativas, indica governadores e prefeitos, e impede o eleitor
de votar. Isso o Brasil conheceu ao longo de 21 anos.
Agora é hora de aprimorar o nosso processo democrático. Não na ilusão de
que eleição é o remédio para todos os males. Não é. Mais importante que votar é
mobilizar-se em movimentos sociais – os verdadeiros protagonistas da
democracia, da conquista de direitos civis e da reforma do Estado.
Quem, hoje, participa de movimentos sociais? Quem acredita que “o
povo unido jamais será vencido”? O neoliberalismo pressiona para que a nossa
indignação não mais resulte em mobilização. Protestamos em casa e nas redes
sociais, desde que sem enfrentar o desconforto das ruas. O que é ótimo para
aqueles que desejam que tudo permaneça como dantes no quartel de
Abrantes.
Frei Betto é escritor, autor, em
parceria com Marcelo Gleiser, de “Conversa sobre a fé e a ciência” (Agir),
entre outros livros.
http://www.brasildefato.com.br/node/10830
Nenhum comentário:
Postar um comentário