sábado, 6 de julho de 2013

'REAJAM À COPA', DIZ CRÍTICO BRITÂNICO EM MESA DA FLIP SOBRE MANIFESTAÇÕES


MARCO RODRIGO ALMEIDA
ENVIADO ESPECIAL A PARATY
06/07/2013  - Folha de São Paulo.

Dia mais politizado da mais politizada das Flips, este sábado (dia 6) reuniu três pensadores de esquerda para debater os rumos da política brasileira.
O britânico T.J. Clark, o filósofo e colunista da Folha Vladimir Safatle e o psicanalista Tales Ab'Saber analisaram os protestos sociais iniciados há um mês e suas consequências para a democracia brasileira.
"Estamos vivendo uma volta das políticas às ruas, que é o lugar natural da política brasileira. Não é verdade que nosso país é um país de poucas mobilizações e poucos conflitos sociais. Esses últimos 20 anos foram, na verdade, um hiato na história brasileira", argumentou Safatle.
Ele explicou que neste período a política brasileira se organizou a partir de dois centros de poder: de um lado o PSDB ("responsável pelos interesses da burguesia nacional, do pensamento conservador nacional"), de outro o PT ("que tinha a hegemonia das mobilizações de rua, enquanto, de certa maneira"). Agora, afirma, nenhum dos dois representa mais o que representava.
"Existe uma consciência cada vez mais clara do esgotamento das possibilidades da representação da democracia. As pessoas não se veem mais representadas nas dinâmicas que organizam a vida democrática."
Ele criticou também os que encaram a luta contra a corrupção como uma "pauta conservadora".
"O que as pessoas querem é que o último mensaleiro petista seja enforcado nas tripas do último mensaleiro tucano", disse, sob fortes aplausos da plateia.
Para ele, "o pensamento conservador quer nos fazer acreditar que o aumento da participação popular é um risco da democracia". "Isso é surreal, é um crime".
PASSE LIVRE
Ab'Saber analisou a atuação do Movimento Passe Livre, que detonou movimentações Brasil afora ao protestar contra o aumento da tarifa de ônibus em São Paulo.
"Esses meninos começaram em 2005. Se organizaram por oito anos. Eles fizeram um diagnóstico profundo de onde a máquina de nossa democracia falhava."
"Esses meninos sabiam que mais cedo ou mais tarde eles teriam o apoio da totalidade, porque eles de fato estavam com a totalidade", completou.
Para o psicanalista, a escalada do Passe Livre se deu em dois atos. O primeiro em que se colocou a possibilidade de o transporte público ser realmente público.
O segundo quando enfrentaram ação da Polícia Militar de São Paulo, que ele chama de "fascista". "A polícia tem que começar agir dentro da lei, o que não faz desde 1964", comentou.
"Eles venceram a polícia ilegal e ilegítima do Estado de São Paulo. Depois que a PM foi afastada, o movimento se expandiu."
COPA
O crítico e historiador britânico Clark disse que acompanha com muita atenção o que acontece no Brasil.
"É uma demanda simples [baixar a passagem de ônibus] e ferozmente rejeitada pelo Estado capitalista. Eles temem porque isso coloca em xeque todo o mundo social."
O britânico comentou outra reclamação feita em todo o país - os elevados gastos envolvidos na realização da Copa do Mundo. "Nem o Pelé conseguirá espantar essa raiva", disse ele.
"Quem se importa [com a Copa]? O Estado se importa. Nós ingleses ainda estamos nos recuperando das Olimpíadas, do bebê da família real. O Estado se alimenta desse tipo de espetáculo. Reajam a isso", afirmou, sendo muito aplaudido.
REDES SOCIAS
Os papéis das redes sociais na organização das massas também foi analisado.
"Com a internet, aumenta muito a possibilidade de construir uma democracia direta. Isso botou em pânico a esquerda tradicional", disse Ab'Saber.
"Eu espero que a pauta da esquerda mude radicalmente, na direção das massas", completou.

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