MARCO RODRIGO ALMEIDA
ENVIADO ESPECIAL A PARATY
ENVIADO ESPECIAL A PARATY
06/07/2013 - Folha de São Paulo.
Dia mais politizado da mais
politizada das Flips, este sábado (dia 6) reuniu três pensadores de esquerda
para debater os rumos da política brasileira.
O
britânico T.J. Clark, o filósofo e colunista da Folha Vladimir Safatle e o
psicanalista Tales Ab'Saber analisaram os protestos sociais iniciados há um mês
e suas consequências para a democracia brasileira.
"Estamos
vivendo uma volta das políticas às ruas, que é o lugar natural da política
brasileira. Não é verdade que nosso país é um país de poucas mobilizações e
poucos conflitos sociais. Esses últimos 20 anos foram, na verdade, um hiato na
história brasileira", argumentou Safatle.
Ele
explicou que neste período a política brasileira se organizou a partir de dois
centros de poder: de um lado o PSDB ("responsável pelos interesses da
burguesia nacional, do pensamento conservador nacional"), de outro o PT
("que tinha a hegemonia das mobilizações de rua, enquanto, de certa
maneira"). Agora, afirma, nenhum dos dois representa mais o que
representava.
"Existe
uma consciência cada vez mais clara do esgotamento das possibilidades da
representação da democracia. As pessoas não se veem mais representadas nas
dinâmicas que organizam a vida democrática."
Ele
criticou também os que encaram a luta contra a corrupção como uma "pauta
conservadora".
"O
que as pessoas querem é que o último mensaleiro petista seja enforcado nas
tripas do último mensaleiro tucano", disse, sob fortes aplausos da
plateia.
Para
ele, "o pensamento conservador quer nos fazer acreditar que o aumento da
participação popular é um risco da democracia". "Isso é surreal, é um
crime".
PASSE
LIVRE
Ab'Saber
analisou a atuação do Movimento Passe Livre, que detonou movimentações Brasil
afora ao protestar contra o aumento da tarifa de ônibus em São Paulo.
"Esses
meninos começaram em 2005. Se organizaram por oito anos. Eles fizeram um
diagnóstico profundo de onde a máquina de nossa democracia falhava."
"Esses
meninos sabiam que mais cedo ou mais tarde eles teriam o apoio da totalidade,
porque eles de fato estavam com a totalidade", completou.
Para o
psicanalista, a escalada do Passe Livre se deu em dois atos. O primeiro em que
se colocou a possibilidade de o transporte público ser realmente público.
O
segundo quando enfrentaram ação da Polícia Militar de São Paulo, que ele chama
de "fascista". "A polícia tem que começar agir dentro da lei, o
que não faz desde 1964", comentou.
"Eles
venceram a polícia ilegal e ilegítima do Estado de São Paulo. Depois que a PM
foi afastada, o movimento se expandiu."
COPA
O
crítico e historiador britânico Clark disse que acompanha com muita atenção o
que acontece no Brasil.
"É
uma demanda simples [baixar a passagem de ônibus] e ferozmente rejeitada pelo
Estado capitalista. Eles temem porque isso coloca em xeque todo o mundo
social."
O
britânico comentou outra reclamação feita em todo o país - os elevados gastos
envolvidos na realização da Copa do Mundo. "Nem o Pelé conseguirá espantar
essa raiva", disse ele.
"Quem
se importa [com a Copa]? O Estado se importa. Nós ingleses ainda estamos nos
recuperando das Olimpíadas, do bebê da família real. O Estado se alimenta desse
tipo de espetáculo. Reajam a isso", afirmou, sendo muito aplaudido.
REDES
SOCIAS
Os
papéis das redes sociais na organização das massas também foi analisado.
"Com
a internet, aumenta muito a possibilidade de construir uma democracia direta.
Isso botou em pânico a esquerda tradicional", disse Ab'Saber.
"Eu
espero que a pauta da esquerda mude radicalmente, na direção das massas",
completou.
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